Enquanto isso, redes de proteção infanto-juvenil ainda engatinham sem ter planos consolidados para agir
RIO, SÃO PAULO, FORTALEZA e CUIABÁ - Daqui a menos de 50 dias começa a Copa do Mundo, e 600 mil estrangeiros deverão desembarcar no país e se somar aos três milhões de brasileiros que, segundo o Ministério do Turismo, se deslocarão entre as 12 cidades-sede durante o evento. O campeonato vai aquecer a economia e mudar a rotina do país, mas também deve deixar crianças e adolescentes brasileiros ainda mais vulneráveis à exploração sexual.
Em diversas cidades do Brasil, já há sinais da ação de aliciadores de menores - pessoas dispostas a montar pequenos exércitos capazes de saciar a demanda por sexo. Em São Paulo, o Ministério Público estadual investiga a atuação de aliciadores de crianças e adolescentes na região da Arena Corinthians, estádio que ficou mais conhecido como Itaquerão e que servirá de palco à abertura da Copa do Mundo, no dia 12 de junho.
Em Cuiabá, a Polícia Civil investiga de forma sigilosa uma rede que percorre a periferia da cidade e oferece aos jovens da região salários tidos como irrecusáveis. Segundo O GLOBO apurou, para ficar à disposição de turistas interessados em sexo durante 15 dias - mais precisamente entre 10 e 25 de junho, quando a cidade sedia partidas de futebol -, crianças e adolescentes têm recebido ofertas que oscilam entre R$ 10 mil e R$ 15 mil.
Sem planos de combate ao problema
Enquanto esse cenário ganha força, as redes de combate à exploração sexual infanto-juvenil durante a Copa ainda não estão consolidadas. Em São Paulo, o comitê local só foi criado no fim do ano passado, e seu plano de enfrentamento ainda não está pronto. A expectativa da prefeitura, que coordena os trabalhos na área, é de que o documento só seja finalizado na primeira quinzena de maio.
- As reuniões do comitês estão acontecendo. O trabalho está sendo desenvolvido, mas já deveria estar pronto. Era hora de a gente estar testando a rede, e não estamos - lamenta a promotora de Defesa dos Direitos Difusos e Coletivos na Infância e Juventude de São Paulo, Fabiola Moran Faloppa.
- Nossa rede é frágil. Os conselhos tutelares existentes são insuficientes, e os técnicos não estão preparados para atender a casos de exploração sexual infantil - afirma Denise Cesario, gerente executiva de Programas e Projetos da Fundação Abrinq. - A formação e a capitação nos conselhos não foi feita, e a rede ainda não é articulada. Estamos tendo que correr atrás.
Em Cuiabá, o coordenador da Comissão Estadual de Segurança de Grandes Eventos, coronel Joelson Sampaio, informa que não foi adotada ação específica para combater a prostituição infanto-juvenil durante a Copa, mesmo sendo a cidade uma das 12 sedes do evento.
- Esse trabalho faz parte da rotina da Secretaria de Segurança Pública - diz ele. - No caso da Copa do Mundo, se houver uma demanda, nós atuaremos especificamente no problema.
Mas registros internacionais indicam que o aumento da exploração sexual de crianças e adolescentes antes e durante os chamados megaeventos é um fato - e isso não deveria, portanto, pegar de surpresa nenhuma autoridade brasileira.
Pesquisa feita pela Brunel University, do Reino Unido, reuniu dados disponibilizados mundo afora nos últimos anos e constatou que, em Gana, antes do Campeonato Africano das Nações de 2008, a polícia desbaratou uma grande rede disposta a recrutar crianças para prostituição. Na Copa da África do Sul, em 2010, o fenômeno se repetiu. Meninas foram preparadas e coagidas a trabalhar no comércio sexual armado em torno do evento. Na Copa da Alemanha, em 2006, outro registro do drama humano. Segundo a pesquisa, durante a competição, foi constatada uma clara conexão entre a exploração sexual infanto-juvenil e o aumento do consumo de álcool.
No Brasil, a Coordenadoria Geral de Proteção à Infância do Ministério do Turismo também tem dados chocantes. Sabe que, só na última Copa, na África do Sul, a exploração sexual aumentou 30% - e não há nada no horizonte que indique que o problema não vai desembarcar no Brasil. Basta olhar a internet.
Um levantamento feito pelo ministério entre janeiro e abril deste ano identificou 2.165 sites que já "relacionavam ícones do turismo nacional a imagens e informações de conotação sexual, principalmente estimulando o abuso de crianças e adolescentes". São casos em que o mundo virtual potencializa crimes.
- Não é que a Copa vai trazer um problema que não existe. A questão já é grave no Brasil - comenta Anna Flora Werneck, coordenadora de programas da Childhood, ONG que faz parte da World Childhood Foundation. - Mas a antecipação das férias escolares (para junho), o aumento da concentração de turistas e a demanda por trabalho temporário intensificam esse risco.
Segundo Anna, está na raiz da exploração sexual infantil a relação de troca:
- Pode ser dinheiro, droga, uma ida à festa. Em alguns casos, têm o agenciador, em outros, um prato de comida. Agora, crianças e adolescentes explorados sexualmente normalmente já tiveram outros direitos violados. Podem já ter sofrido abandono, negligência. Na verdade, é difícil atribuir uma causa só, mas a pobreza tem papel importante.
MAGNO MALTA APLAUDE PINHEIRO EM AÇÃO DE COMBATE A EXPLORAÇÃO SEXUAL NA COPA
O anúncio de que o Portal Todos Contra a Pedofilia vai realizar Fórum Jovem Multiplicadores no Combate a Exploração Sexual e Pedofilia na Copa com o apoio do deputado estadual Emanuel Pinheiro (PR) foi saudado pelo Presidente da Frente Parlamentar Mista Permanente em Defesa da Família Brasileira, senador Magno Malta (PR/ES), em entrevista.
O senador, que foi Presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pedofilia, considerou de suma importância a ideia do Portal Todos Contra a Pedofilia, de transformar os jovens em multiplicadores de informação. "Que vai capacitar e estimular a formação de lideranças juvenis que possam contribuir de forma educativa, preventiva, no processo de sensibilização e conscientização de outros jovens para o enfrentamento dessa questão tão grave que é a pedofilia e a exploração sexual", afirmou.
Segundo o senador Magno Malta (PR), há seis anos e meio, "quando o Brasil nem conhecia o termo pedofilia", o seu companheiro de partido (Emanuel Pinheiro) abraçou a causa e ao lado do Portal Todos Contra a Pedofilia levantou o estado de Mato Grosso a combater este que é o grande mal da humanidade que é a pedofilia.
Magno Malta afirmou que o empenho e a dedicação voluntária e abnegada do deputado Emanuel Pinheiro (PR) foram determinantes para o sucesso alcançado. Destacou que os eventos foram emocionantes e mobilizou os diversos segmentos da sociedade regional, tornando Mato Grosso como referência desta luta pela defesa de nossas crianças e pelo futuro deste país.
O Portal Todo Contra a Pedofilia vai escolher jovens que já participam de mobilizações para serem capacitados para trabalhar com essa questão no sentido de estimular a participação dos próprios jovens nas ações de combate à exploração sexual e pedofilia.
A direção do Portal Todos Contra a Pedofilia convidou o professor e presidente da Comissão de Direitos, Humanos, deputado estadual Emanuel Pinheiro (PR), para ser o palestrante do Fórum Jovem Multiplicadores no Combate a Exploração Sexual e Pedofilia na Copa, que será realizado em Várzea Grande.
O diretor do Portal Todos Contra a Pedofilia, Batista de Oliveira, destacou que as principais vítimas são crianças e jovens de até 24 anos, é preciso garantir a participação deles nas ações de combate a esse problema para atingir bons resultados. "Se não estimularmos nesses jovens uma nova cultura e se não trouxermos essa juventude para, no seu próprio modo de ser, fortalecer-se como agente vivo no combate, estaremos fazendo muito para alcançar poucos resultados", defendeu.
Segundo João Batista, a maioria dos jovens desconhece as ações tanto para prevenir o problema quanto para denunciar casos de abuso. O projeto pretende qualificar as jovens lideranças para conhecer a rede local e encaminhar as vítimas.